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Channel: Comentários sobre: Investigação revela mercado ilegal de autorias e trabalhos científicos na China
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Por: Frederico Guilherme Graeff

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Em relacao ao artigo publicado hoje em O Estado, que achei muito oportuno, envio abaixo trecho de entrevista que dei na UFMG onde abordo outro tipo de acao entre amigos que, a meu ver, tambem pode contribuir para desmoralizar a ciencia brasileira, qual seja a falsa autoria de trabalhos cientificos.

Frederico Graeff: “Na pesquisa fundamental, não se pode ter uma visão imediatista”
terça-feira, 27 de setembro de 2011

Os cientistas hoje trabalham muito pressionados pela necessidade de produtividade, simbolizada pela máxima Publish or perish (Publique ou pereça). O aumento de casos de plágio na ciência (ou pelo menos da publicidade em torno deles) é um reflexo dessa ânsia por resultados?
Estamos diante de distorções e não é só plágio. Uma até mais simples consiste em fragmentar a publicação para render vários artigos.

Para dar volume..
Sim. Publicar de qualquer maneira coisas pouco relevantes, mas que podem ser aceitas até mesmo por revistas de qualidade. Mas se formos medir o impacto, poucos irão citar esses trabalhos. Isso tem ocorrido em muitas áreas. A quantidade de trabalhos aumentou bastante, mas o impacto, medido pelo número de citações, nem tanto. Voltando ao plágio, trata-se de uma distorção mais grave, mas há coisas mais sutis, como a falsa autoria.

Como funciona?
É uma prática que infelizmente está ocorrendo. Baseia-se na formação de redes de pesquisas, cujos integrantes têm seus nomes registrados como autores em todos os trabalhos, sendo que uma parte deles não contribuiu em nada para a realização da pesquisa, ou sequer domina o conteúdo do artigo. Há casos de recém-doutores que chegam a registrar 50 trabalhos em seu nome. Como isso é possível? Conheço também um caso de um aluno de iniciação científica com quatro artigos publicados em revistas científicas indexadas. Chegou ao laboratório de um colega e pediu para participar do grupo. O colega perguntou. “O que você fez nesses trabalhos?” “Me pediram para fazer umas dosagens”, respondeu o estudante. Ou seja, deu uma contribuição técnica sem saber para quê e virou coautor. Isso não é formação. É muito grave, mais até, em minha opinião, do que o plágio, que gera escândalos, mas não acredito que seja um problema em grande escala. Por que meus orientandos conseguem hoje liderar laboratórios e produzir trabalhos relevantes? Muitas vezes eu atrasava a publicação de determinado artigo porque queria que eles entendessem profundamente o que estavam fazendo. O orientado tinha que crescer com o trabalho, ele estava recebendo formação, e não atuando como mera ‘mão de obra’. Isso é uma distorção produzida pelo publish or perish. Vivemos uma crise ética muito grande no Brasil, e estamos assistindo a movimentos de indignação. Espero, sinceramente, que essa indignação chegue também ao meio acadêmico. E que se adotem medidas para coibir os malfeitos, para usar expressão da moda. Felizmente, algumas delas estão sendo tomadas.

Poderia dar exemplos?
Já existem softwares que detectam automaticamente o plágio, com razoável precisão. Há revistas que exigem declaração assinada pelos autores sobre o que realizaram no artigo enviado para publicação – se a informação for falsa, configura crime. Há examinadores criteriosos que arguem o candidato sobre o conteúdo de suas publicações e, ao perceber que ele ignora o assunto, reprovam-no sumariamente. É preciso ter em mente que cargos e recursos são distribuídos em função do número de trabalhos publicados. Portanto, fraudar autoria é o mesmo que fazer apropriação indébita. Essa prática pode afetar a imagem da categoria. E parodiando Vinícius de Moraes, em ciência credibilidade é fundamental.


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